domingo, 29 de agosto de 2010


Domingo é dia de compartilhar; compartilhar o pão, o vinho, as risadas, as histórias e os silêncios... Estender os braços pro abraço de quem precisa.

Nesse conjunto de doações d’alma, quase involuntárias, resolvi mostrar, compartilhar um dos belos poemas de uma das minhas escritoras favoritas.

Frieza

Os teus olhos são frios como espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lãminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:
“Ah! Quem me dera, Irmã, amar assim!…"

FLORBELA ESPANCA



«Frieza», de Florbela Espanca from blocsdelletres on Vimeo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Contemplação



Os teus olhos são como olhos que vejo
no fundo do olho,
fundo que procuro ir.
Atravessar seus horizontes e ser olhado,
ser tocado.
No exílio de meu reflexo ser.
E a ir a buscas, entre passos esbarros e tombos,
levantar de novo e cair novamente,
pois pisei num óleo.
Tão ludibriado com o que vi,
amalgamei o seu sorriso com a poesia
e deles fiz chorar-me.
Lágrimas ao vento, voar em vez de resvalar,
só planar
e chegar num fim, que se torna o começo de um arco-íris
e no mais longínquo fim de um horizonte chegar.
Olhar-te-ei com comoção e fitarei até acordar.
Olhos que me olhem!
Oblíquo sentido de olhar.
Olhar sem temer.
Olhar nos meus olhos.
Olhar-te-ei até que um dia,
acordado irei dormir,
para nunca mais acordar,
e assim,
chorar sem ver,
sentir sem tocar
e amar.

(escrito aos 14 anos)